As intermitências da Morte


Bem, hoje terminei de ler o livro de José Saramago (As intermitências da morte) e como de costume resenhei ele. Vou ser sincera em dizer a vocês que não foi um livro fácil de ler, uma linguagem bem "pesada" e de difícil compreensão, sem contar que no meio do livro tive uns "desentendimentos" com o autor, o que me trouxe certa decepção para com sua pessoa que admirava tanto... Mas enfim, vou postar a resenha crítica aqui e pra quem gostar, vai a dica de uma leitura.

“No dia seguinte ninguém morreu”. É assim que inicia a trama protagonizada pela morte, que insatisfeita com a antipatia dos seres humanos pela sua figura resolve dar uma amostra do que é viver eternamente, ou simplesmente como é viver em um país onde as pessoas não morrem.
A história pode ser dividida em três partes: na primeira, onde as pessoas têm que se adaptar ao novo estilo de vida (o de não-morte) e que passa do momentâneo contentamento até os mais inusitados problemas que decorrem “de não se morrer”. José Saramago aborda através dessa problemática várias questões sociais, políticas e religiosas. Problemas que vão desde a superlotação em hospitais e asilos até a intolerância dos familiares com os “entes queridos” que se encontram no estado de não morte. Problemas que vão desde a adaptação das funerárias e seguradoras, na ânsia de não perderem toda a clientela até a impotência (e conivência) do governo diante de uma máphia que quer tirar vantagem em todas as situações. Dentre tantos outros que permeiam as estratégias da igreja católica em não perder seus fiéis que se encontram desacreditados na vida eterna (no céu).
A segunda parte da história é onde a morte se apresenta ao leitor, através de uma carta, onde explica o motivo de ter se afastado das suas funções e comunica que as mortes voltarão a existir, mas para não “pegar” as pessoas desprevenidas, ela as comunicará com uma semana de antecedência. Não é surpresa quando nos deparamos com uma nova crise nesse país imaginário de José Saramago, aonde os seus habitantes vivem em pânico à espera da carta cor violeta que precede os seus últimos dias de vida. Nesse momento do livro podemos perceber a morte como uma pessoa, ela é totalmente humanizada pelo autor.
E por fim, percebemos um novo momento na história, que pega a morte de surpresa quando se depara com um músico que consegue “escapar” de sua sentença. A protagonista aqui fica intrigada com esse homem que já era para estar morto e ainda vive e decide visitá-lo, pra ver o que há nele de diferente e que providências tomar. O contato da morte com a vida é tão inusitado, que ela começa a se questionar em como seria ter um “cão”, “sentir sede” e se sensibiliza diante da vida, algo desconhecido pra ela.
O livro termina com a própria morte se “vestindo” de mulher, com o intuito de entregar em mãos a carta violeta ao músico, mas esta se rende à vida e aos prazeres que ela pode lhe proporcionar. Após conversar com o homem e lhe dizer que tem uma carta para lhe entregar, a morte vai até o apartamento dele, pede que este toque uma música pra ela, e quando o músico quer chamar um táxi pra ela, esta diz que ficará essa noite com ele. Eles se beijam, vão para o quarto e despem-se e ali acontece o inusitado: várias vezes, segundo o autor. Após o homem dormir (a morte não, pois nunca dorme) ela pega a carta e a queima com um fósforo. Inesperadamente a história termina assim:
“A morte voltou para a cama, abraçou-se ao homem e, sem compreender o que estava a suceder, ela que nunca dormia, sentiu que o sono lhe fazia descair suavemente as pálpebras. No dia seguinte ninguém morreu.”

Sobre o autor: SARAMAGO, José. As Intermitências da Morte – São Paulo: Companhia das Letras, 2005.

José Saramago nasceu na província portuguesa do Ribatejo, em 1922 e é romancista, poeta e dramaturgo. Ganhou renome internacional após a publicação de seu livro Memorial do Convento (1984). Em 1995 ganhou o prêmio Camões (distinção máxima oferecida aos escritores de língua portuguesa) e em 1998 ganhou o prêmio Nobel em Literatura. Nos vale aqui ressaltar que Saramago foi o primeiro autor de Língua portuguesa a ganhar esse prêmio. Suas obras são caracterizadas pelo seu forte senso crítico e posicionamento político e religioso (ou não- religioso). Já sofreu inúmeras críticas da igreja católica com suas obras: “O Evangelho Segundo Jesus Cristo” (1991) e “Caim” (2009). Após o lançamento de seu livro em 1991 (O Evangelho Segundo Jesus Cristo), foi censurado pelo governo português e exilou-se em Lanzarote, nas Ilhas Canárias – Espanha, onde vive até os dias de hoje.

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