A arte de ser feliz!



"Houve um tempo em que minha janela se abria
sobre uma cidade que parecia ser feita de giz.
Perto da janela havia um pequeno jardim quase seco.
Era uma época de estiagem, de terra esfarelada,
e o jardim parecia morto.
Mas todas as manhãs vinha um pobre com um balde,
e, em silêncio, ia atirando com a mão umas gotas de água sobre as plantas.
Não era uma rega: era uma espécie de aspersão ritual, para que o jardim não morresse.
E eu olhava para as plantas, para o homem, para as gotas de água que caíam de seus dedos magros e meu coração ficava completamente feliz.
Às vezes abro a janela e encontro o jasmineiro em flor.
Outras vezes encontro nuvens espessas.
Avisto crianças que vão para a escola.
Pardais que pulam pelo muro.
Gatos que abrem e fecham os olhos, sonhando com pardais.
Borboletas brancas, duas a duas, como refletidas no espelho do ar.
Marimbondos que sempre me parecem personagens de Lope de Vega.
Ás vezes, um galo canta.
Às vezes, um avião passa.
Tudo está certo, no seu lugar, cumprindo o seu destino.
E eu me sinto completamente feliz.
Mas, quando falo dessas pequenas felicidades certas,
que estão diante de cada janela, uns dizem que essas coisas não existem,
outros que só existem diante das minhas janelas, e outros,
finalmente, que é preciso aprender a olhar, para poder vê-las assim."

(Cecília Meireles)


*Lindo, lindo, lindo esse poema não é?
Essa última estrofe que está grifada eu utilizei no desfecho do meu artigo e comparei com os 3 modos de um professor encarar a profissão...
Vou compartilhar aqui com vocês!

Como no poema de Cecília Meireles, citado acima, cada educador tem a liberdade de escolher um caminho: existem aqueles que preferem fazer “vistas grossas” à defasagem escolar e acreditar que os problemas não existem, caracterizando o pensamento de Paulo Freire: “os professores fingem que ensinam, enquanto os alunos fingem que aprendem” .
Há também os professores que estão cientes de toda essa problemática no ensino, e me refiro aqui muito além da encontrada apenas em sala de aula, mas por comodismo ou mera indiferença, acham que não é o seu papel. Esperam que os outros façam, pois não se sentem capazes.
Mas agora gostaria de mencionar um terceiro grupo de educadores, grupo o qual merece ser evidenciado e seguido por nós, que estamos começando nessa carreira. É aquele que se dispõe a “aprender a olhar” e que não fica alheio aos problemas encontrados na educação. Esse professor sabe que irá encontrar pela frente muitos alunos que dizem “não gostar de estudar”, mas, diferente de seus colegas acima, encaram uma situação dessas como um desafio.
É o tipo de professor que encontra no olhar de um aluno a satisfação pessoal e que acima de tudo acredita na educação. Acredita que através de sua atitude outros se tornarão melhores, que através da sua paixão outras pessoas serão “contaminadas”. São estes profissionais, que nós, concluintes do Curso de Letras, iremos ser.

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